quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Lembranças da minha infância...e saudades do meu avô

Passei cerca de sete anos sem falar direito com meu avô João Veneno, por conflito de geração. Mas graças a ele, hoje tenho boas lembranças da minha infância, pré-adolescência e adolescência. Naquela época, costumava passar parte das minhas férias em Pinhão, onde ele era exator-chefe.

Cidade pequena do sertão sergipano, mas para criança tudo é folia, até mesmo enfrentar o calor forte no verão escaldante. Mas quando chega o inverno, a paisagem lá muda, tudo fica verde, os tanques "sangram" de tão cheios. É lindo ver a roça crescendo, verdinha, os pés de milho, de feijão, abóbora...Já entrei muito na roça para colher milho...ele assado após ser colhido chega a ser "docinho"...

Por todas essas lembranças, sinto saudades da época em que ia para lá, com meu avô vivo. Ele adorava criança. Enchia de balas e doces a casa, tudo que a meninada gostava. Durante o período junino, constumava acorda todo mundo da casa 3h da madrugada, para assar milho e carne na fogueira.

No São João, o forró sempre acontecia no mercado da cidade (não tinha outro lugar) e lá já dancei muito, de acabar com o salto do sapato. Erivaldo de Carira sempre estava por lá...

Mas antes de ter o mercado, o período de Natal era a grande época na cidade. O parquinho e as barracas de comida se espalhavam pela rua do Bode (quando eu era criança, era a rua que tinha no município). Depois passaram para a área ao lado do mercado municipal..... Huumm, como era boooommmm. Sempre tinha dinheiro para gastar, pois tios, padrinho e meu avô davam um trocadinho a mim e meus irmãos.

Quando estava na cidade, a biza Donana acordava cedo e todos da casa tinham que sentar na mesa para tomar café às 7h. No início da noite, na hora da Ave Maria, todos tinham que acompanhá-la no Terço. Era batendo o sino da igreja e a minha biza se ajoelhando na sala da frente da casa para "puxar" o terço.

Não me lembro mais do nome do frei, filho de Pinhão e que faleceu ainda jovem, mas me lembro muito bem das noites em que ele reunia os jovens num salão anexo à casa da minha biza, para fazer cantorias com violão, músicas que estimulavam o lado cristão de cada um....

São tantas lembranças que passaria o dia inteiro aqui só escrevendo.... Andar à cavalo, tomar banho de tanque, subir nas árvores, andar de charrete, colher milho e feijão na roça, beber leite tirado na hora do peito da vaca, comer cuscuz de milho ralado, doce de leite batido feito no fogão à lenha, ajudar a Vanda (viúva do meu avó) a fazer requeijão do sertão, pamonha e outra iguarias de milho...huummm, a boca enche de água só de lembrar.

Naquela época, a casa da fazenda não tinha energia. De sopapo, a principal dormida era em redes, o fogão era à lenha e lá tinha o único aparelho de televisão do povoado Lagoa, que funcionava à bateria. Era uma TV de 14 polegadas, preto e branco... Quando dava o horário das novelas, vinham os moradores de todo o povoado para assistir lá, todos amontoados no chão da sala....

Por isso tudo, sinto saudades do meu avô João Veneno, João de Donana ou Joãozinho da Padaria, homem do sertão, que adorava rapadura, comer jabá crua com farinha e umbu verde. Ele me deu a oportunidade de viver tudo isso, sem falar que, quando meus pais se separaram, fomos todos morar na casa dele e da minha avó Zinha, que mais adiante estarei descrevendo aqui momento que passei com ela.

Hoje vendo a minha filha, numa vida tão urbana, onde trancamos as crianças em casa com medo das atrocidades, fico a desejar que ela vivencie pelo menos metade de tudo que vivi no interior... Correr, pular brincar, subir em árvore, com direito a se machucar, a ralar as pernas e braços, a andar do pátio da casa da fazendo, curtir o parquinho no Natal.... Enfim, saber que existe muito mais que shopping, internet, cinema, piscina, brinquedos de grandes indústrias e tudo mais.

O sertão, o interior é muito bom!

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